Confesso a todos vocês: nessas “andanças” pelo mundo, talvez a nossa visita ao Campo de Concentração de Dachau, localizado nas imediações de Munique/Alemanha, tenha sido uma das experiências mais tristes e marcantes da nossa vida. Conhecer de perto um dos locais onde ocorreram os piores horrores do Holocausto é uma experiência nada agradável, mas necessária para entender os absurdos que eventualmente são registrados na história da humanidade.
Lembrar que Hitler ordenou a construção desse campo de concentração em 1933 e ao longo dos 12 anos seguintes, tornou-se o lar de mais de 200.000 prisioneiros de 34 nações, é simplesmente revoltante. E o pior: a história registra inclusive que tudo começou com o aprisionamento de judeus, aos quais se juntaram homossexuais, passando para aqueles que simplesmente divergiam politicamente, como socialistas e comunistas.
Mesmo sabendo que as câmaras de gás de Dachau não foram utilizadas, conhecer de perto o local onde os prisioneiros eram amontoados em beliches, visitar aquele complexo onde seres humanos se tornavam esqueletos ambulantes e ver de perto o crematório usado inúmeras vezes para dispor dos caídos é de embrulhar o estômago, literalmente!!
Como Chegar:
Dachau está localizada no subúrbio de Munique, cerca de 19 Km ao norte da cidade.
Sugerimos duas maneiras para chegar ao local: caso prefira utilizar o trem S2, são 22 minutos a partir da estação central de Munique, saindo a cada 10 minutos durante o dia e cada 30 minutos durante a noite. Já o trem RB de alta velocidade leva apenas 11 minutos. Em ambos os casos, chegando na estação de Dachau, são apenas 15 minutos após pegar o ônibus nº 726.
Como alugamos um carro e estávamos hospedados na cidade de “Landsberg am Lech“, localizada cerca de 40 Km de Munique, foram 30 minutos dirigindo por um verdadeiro “tapete” rodoviário, muito bem sinalizado e fácil de chegar.
Ao chegar nas imediações do campo de concentração, a primeira impressão ao visualizar aqueles muros rodeados com arame farpado, é que estamos ao lado de um quartel do exército, totalmente isolado e com guaritas espalhadas por todo o complexo. O coração até bate mais forte, pois estamos diante de um local que se tornou sinônimo de sofrimento, opressão, miséria e morte, tudo sob a vigilância brutal de Heinrich Himmler SS.
O memorial possui um estacionamento amplo. Caso esteja de carro, como era o nosso caso, é cobrada uma taxa de € 3,00 por carro e € 5,00 para ônibus. Entre novembro e fevereiro o estacionamento é gratuito.
O Memorial de Dachau possui um “Visit Center” de excelente qualidade, que oferece aos turistas visitas guiadas individuais, “Áudio Guide” em diversas línguas, inclusive português, ao preço de 3,50 Euros, e ainda o Documentário “The Dachau Concentration Camp 1933-1945”, de 1969. É possível ainda reservar visitas guiadas para grupos e turmas escolares, mediante reserva antecipada.
Ainda no “Visit Center”, temos uma bela livraria e uma pequena mas deliciosa cafeteria.
Para mais informações, clique AQUI.
Lembrando que a entrada é gratuita e o memorial está aberto diariamente de 9:00 às 17:00, fechando apenas no dia 24 de dezembro. O arquivo e a biblioteca do memorial estão abertos para visitas somente com hora marcada entre as 9h e as 17h de terça a sexta-feira. Para mais informações, clique AQUI.
Início da Visita:
Entre o “Visit Center” e a entrada do campo de concentração, é possível apreciar, numa rápida caminhada de menos de 5 minutos, belas paisagens, com muito verdade e ar fresco, talvez o prelúdio do paraíso para a entrada ao inferno.
Logo na entrada do campo, o famoso portão com os dizeres “Arbeit Macht Frei” (O trabalho liberta), slogan nazista na década de 30.
Para facilitar a montagem de um roteiro individualizado para aqueles que desejam visitar o Memorial, clique AQUI e visualizar o croqui detalhado do local. E abaixo, vamos compartilhar um pouco da nossa experiência.
Separe pelo menos 3 horas para uma visitar completa e sem pressa, e prepare-se, pois cada pedaço deste lugar é um verdadeiro chute na “boca do estômago”.
Primeira constatação: As instalações são muito bem preservadas, e nas próximas fotos é possível ter uma pequena noção dos locais onde os prisioneiros eram mantidos, chamados de “barracões”.
É possível visualizar a chamada “estrada de acampamento”, que forma o eixo principal de Dachau, que continha 34 barracões ao longo de tal estrada, tanto ao lado direito como no lado esquerdo.
A partir de 1944, com a decisão de colocar o maior número possível de prisioneiros no acampamento, construído para 6.000 pessoas e que chegou a possuir 30.000, as condições de vida e saúde pioraram drasticamente, com fome, doenças das mais diversas e mortes diárias, sendo que no dia 29 de abril de 1945, Dachau foi libertado pelas tropas americanas.
É possível conhecer a parte interna das instalações, bem como os armários, beliches, pias, banheiros, onde dezenas de prisioneiros permaneciam literalmente “amontoados” uns em cima dos outros.
A foto abaixo retrata bem o dia a dia dos prisioneiros: simplesmente revoltante!!
Para evitar a possível fuga de prisioneiros, as instalações possuíam guaritas com guardas, cerca elétrica e arame farpado. Aqueles que tentavam fugir eram literalmente “fuzilados”, conforme se vê numa das fotos abaixo.
Na foto abaixo, o Monumento “Jourhau“, ou “International Memorial“, desenhado pelo artista iugoslavo Nandor Glid, em 2007, sobrevivente do campo de concentração. Tem como principal finalidade mostrar ao turista que o caminho traçado por ele naquela visita é o mesmo que milhares de prisioneiros fizeram durante o nazismo, no entanto sem a certeza que ao final estariam “livres”.
Ao lado do monumento, uma inscrição em muitas línguas, que diz mais ou menos o seguinte: “O exemplo dos exterminados aqui entre 1933 e 1945 devido sua luta contra o nazismo, une os vivos em sua defesa da paz, da liberdade e na reverência da dignidade humana.”(tradução deste escriba).
Na foto abaixo, um resumo da sua obra: postes, valas e arame farpado, objetos obrigatórios nas instalações de segurança em torno do acampamento. O esqueleto humano representa aqueles que, em um ato de desespero, tentaram fugir pela cerca de arame farpado.
A morte no campo de concentração era comum e certa!
Mais um chute na boca do estômago!
Agora duas fotos emblemáticas: a primeira representa uma urna com as cinzas do “prisioneiro desconhecido” e o lembrete “Nunca mais” nas costas.
A segunda, um relevo com uma série de triângulos unidos a uma corrente, que representa cada prisioneiro que passou por Dachau a partir de 1937, diferenciados pelas cores, como o triângulo rosa que representa os presos homossexuais ou o verde que representa os “prisioneiros criminosos”, dentre outras categorias perseguidas pelo regime nazista, seja por razões políticas, raciais ou religiosas.
É simplesmente de arrepiar!
São vários os monumentos religiosos em Dachau: na foto abaixo o “Memorial Judaico“, inaugurado em 7 de maio de 1967, projetado pelo arquiteto Zvi Guttmann e feito de basalto preto, que inclina-se para baixo como uma rampa.
Ao descer a rampa, é possível visualizar o filtro de luz que ilumina seu interior saindo do teto. A grade do lado de fora simboliza o arame farpado que fazia parte da rotina dos prisioneiros judeus, e a rampa tem o simbolismo que visa lembrar a todo momento o extermínio dos judeus europeus.
O seguinte verso está estampado na entrada do Memorial: “Ponha-os em temor, ó Senhor, para que as nações se saibam que são apenas homens. (9, 21)
Impossível não se emocionar!
Ao fundo na foto abaixo, o “The Mortal Agony of Christ Chapel”, primeiro monumento religioso erguido em Dachau, em 1960. A posição da capela e a forma circular aberta foi projetada pelo arquiteto Josef Wiedemann, para simbolizar a libertação do cativeiro por Cristo.
Outro fato interessante: Em 1972, os sacerdotes poloneses sobreviventes de Dachau colocaram uma placa na parte de trás da capela para lembrar o sofrimento dos prisioneiros daquele país no campo de concentração.
É possível visitar ainda o “Carmelite Convent”, projetado na forma de uma cruz, a “Protestant Church of Reconciliation”, com seu portão de aço com as seguintes palavras do salmo 17: ” “Hide me under the shadow of thy wings”, ou algo como “”Esconda-me sob a sombra de suas asas” e a “Russian-Orthodox Chapel”, localizada ao longo de um caminho entre o antigo campo de prisioneiros e a área dos crematórios, sendo o mais novo dos monumentos religiosos.
Talvez o lugar mais “impactante” da visita: você terá a oportunidade de assistir um pequeno filme/documentário de cerca de 15 minutos que relata a vida dos prisioneiros no dia a dia em Dachau, que me abstenho de relatar os detalhes aqui.
Confesso que fiquei com o estômago embrulhado e saí do local totalmente revoltado com aquilo: será que o ser humano não possui limites para tanta crueldade com seus semelhantes?
O campo de concentração possui um belo museu, muito bem montado e detalhista, onde é possível conhecer pormenores sobre o dia a dia naquele inferno, bem como peças, utensílios e materiais diversos daquela época, e claro, fotos que irão mexer com o mais frio dos homens, como esta abaixo.
Existe ainda um painel de exposição, com fotografias de ex-prisioneiros, com informações e fotos.
Pois é, meus amigos, Dachau também possuía um crematório, mais conhecido como “Barracão X”, que servia para destruir as centenas de cadáveres daqueles que morriam todos os dias no campo de concentração.
E acredite se quiser: ao final do ano de 1944, sua capacidade já não era suficiente para incinerar a quantidade de mortos diária, sendo que em 1945, quando o campo foi libertado pelos americanos, os soldados encontraram inúmeros cadáveres amontoados no crematório.
Ao lado do “Barracão X”, você poderá admirar o Memorial “O prisioneiro desconhecido”, com a inscrição “Para honrar a morte, para advertir os vivos”.
Abaixo, “Brausebad”, em alemão, que significa “Ducha”. Neste local os prisioneiros simplesmente tomavam um banho, que era o último passo para admissão no campo de concentração. Os prisioneiros recém-chegados tinham a cabeça raspada, eram “desinfetados”, limpos e depois enviados para o quartel, vestidos com suas roupas de prisioneiro.
Para encerrar o post, o mais cruel dos cômodos de Dachau: a Câmara de Gás, que no entanto, não há registros que realmente foi utilizada durante o funcionamento do Campo de Concentração.
Enfim, trata-se de uma visita imperdível, tanto para entendermos mais um pouco sobre esse lado negro da humanidade que foi o nazismo, quanto para constatar que o ser humano, quando deseja, não possui limites para o verdadeiro MAL.
Dachau Concentration Camp Memorial Site
Alte Römerstraße 75
D – 85221 Dachau
Deutschland
Funcionamento: diariamente, das 9h às 17h, exceto dia 24 de dezembro
Gratuito